Marina Izidro

É jornalista e vive em Londres. Cobriu sete Olimpíadas, duas Copas e Champions. Mestre e professora de jornalismo esportivo na St Mary’s University

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Marina Izidro
Descrição de chapéu Todas paralimpíadas

O esporte paralímpico não pode ser visto só a cada quatro anos

Além de ferramenta de transformação social, pode ser um grande produto se tratado da maneira certa

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Antes do início dos Jogos Paralímpicos, uma das preocupações aqui em Paris era se o público iria assistir às competições. Reportagens, meses atrás, alertavam que as vendas de ingressos estavam baixas.

Há algumas semanas isso mudou e, na véspera da cerimônia de abertura, organizadores comemoraram a marca de dois milhões de entradas vendidas de um total de 2,8 milhões disponíveis (números finais ainda serão divulgados). A empolgação do público costuma mesmo crescer nesse intervalo, assim que os Jogos Olímpicos acabam. Foi assim em outras edições.

O público francês abraçou os Jogos e criou um dos climas mais legais que já vi em Paralimpíadas. Fui em algumas arenas –futebol de cegos, atletismo, natação, judô, rúgbi em cadeira de rodas. Todas estavam cheias. Os atletas, claro, estão adorando. Muitos disseram que nunca haviam competido diante de tanta gente, com uma torcida tão animada. Como, para eles, estádios lotados não é algo tão comum, alguns tiveram que aprender a lidar com essa espécie de pressão.

Lance da final do rúgbi em cadeira de rodas; Japão ficou com o ouro, EUA com a prata e Austrália com o bronze - Rula Rouhana - 2.set.24/Reuters

Os Jogos Paralímpicos de Paris serão um sucesso. Mas, quando acabarem, no domingo (8), será triste pensar que teremos que esperar quatro anos para ver essas cenas de novo.

O esporte paralímpico merece ser visto mais vezes. As histórias de vida e as performances são impressionantes, as competições claramente são um sucesso de público e também é divertido ver pela televisão. O Brasil é fortíssimo e, até o momento em que essa coluna foi escrita, já havia ganhado 66 medalhas, sendo 16 de ouro. Os atletas do nosso país, além de terem altíssimo nível, são carismáticos, têm trajetórias de vida com as quais muitos brasileiros com deficiência podem se identificar. Ou seja, além de ser uma ferramenta de transformação social, o esporte paralímpico é um grande produto em termos de negócio.

A brasileira Alana Maldonado (azul) na luta desta sexta-feira (6) em que conquistou a medalha de ouro na categoria 70 kg, contra a chinesa Yue Wang - Jennifer Lorenzini/Reuters

Mas, para que ele dê certo, precisa estar em exposição o tempo todo. Por que não passar mais competições na televisão aberta? Quando organizadores pensarem em como vão sediar seus torneios, poderiam ter modalidades paralímpicas no mesmo evento. Nesta semana, o britânico Jonnie Peacock, bicampeão paralímpico nos 100m rasos e uma das estrelas do Team GB, pediu que a federação internacional de atletismo, a World Athletics, inclua eventos paralímpicos no calendário da Diamond League.

A Grã-Bretanha se tornou uma potência paralímpica nos últimos anos, impulsionada por ter sediado os Jogos em Londres em 2012. Tem tudo para terminar Paris-2024 em segundo lugar no quadro de medalhas, só atrás da China e à frente dos Estados Unidos. Mesmo assim, na Inglaterra, onde moro, existe a discussão de que não se fala de esporte paralímpico o suficiente por lá.

Gabriel Melone de Oliveira, o Gabrielzinho, se prepara para saltar na prova de 100 m livres - Andrew Couldridge - 5.set.24/Reuters

Como escrevi na coluna da semana passada, de uma forma geral temos uma imprensa esportiva, no mundo todo, que valoriza o futebol de forma exagerada e só lembra de esportes olímpicos e paralímpicos a cada quatro anos. Isso é muito muito pouco.

O esporte paralímpico pode ser um grande produto comercial, uma fonte de entretenimento e, claro, de inspiração para milhões de pessoas com deficiência ao redor do planeta se for tratado da maneira certa.

A colunista está em Paris como integrante da organização responsável pela transmissão oficial dos Jogos Paralímpicos

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